Fernanda, minha filha de quinze anos, que atualmente está no primeiro ano do ensino médio, tem um grande sonho: estudar com a ajuda de um tablet. Mas ela não quer deixar de escrever e enterrar a letra cursiva – o que eu, sinceramente, concordo: os estudantes devem continuar a registrar algumas observações no bom e velho fichário, um método que jamais deixará de existir no processo de aprendizado.
 Ela quer apenas ter mais agilidade (encontrar o conteúdo de todos os livros em poucos cliques), acesso a um conteúdo mais instigante (animações que ilustrem algum conceito da física ou mapas interativos em três dimensões que já mostram o relevo de determinada região, por exemplo) e, principalmente, mais comodidade (sem a necessidade de levar muito peso em uma mochila).
Mas se a Fernanda adotasse um tablet já no próximo ano letivo, a tecnologia realmente seria útil para seus estudos em sala de aula? Apesar dos inúmeros aspectos positivos que tornarão sua utilização pelas escolas inexorável, precisamos considerar também diversos desafios que, infelizmente, ainda precisam ser vencidos para levar os livros didáticos para o iPad, o Kindle, o Galaxy ou qualquer outro tablet tão rapidamente quanto esperam os estudantes desta nova geração que já nasceu conectada.
Vamos avaliar os aspectos que podem ser negativos e quais serão os positivos com a chegada dos tablets nas escolas nos próximos anos.
|  | NEGATIVO | POSITIVO | 
| Disponibilidade de Conteúdo | A grande   maioria das editoras ainda está apenas planejando lançar livros didáticos para   tablets, o que inviabilizaria uma substituição do material didático impresso   por conteúdo digital em larga escala. 
 | A adoção   imediata pelas escolas incentivaria as editoras a acelerar lançamentos de   livros didáticos para tablets para não perder mercado para as concorrentes   que se anteciparem na digitalização de conteúdos. | 
| Preparo dos Professores para lidar com as   novas tecnologias | Os   professores ainda não estão, em sua maioria, preparados para utilizar as   tecnologias digitais, valendo-se ainda de recursos tradicionais para dialogar   com os alunos na expectativa que eles aprendam, o que é um grande desafio em   uma geração que cresceu em meio aos bits e bites. Nas mãos dos professores,   os tablets ainda não seriam utilizados em todo seu potencial. | Com a   implementação antecipada dos tablets, as escolas serão obrigadas a investir rapidamente   na formação do corpo docente para que os professores aprendam a aplicar as   novas tecnologias em sala de aula, melhorem a qualidade do ensino e consigam   envolver e motivar os alunos, incrementando a curva de aprendizado na medida   em que conquistem seu interesse para um conteúdo mais interativo, dinâmico e   atraente. | 
| Custos e Reaproveitamento | Todos os anos   as editoras enviam livros impressos para que os professores os avaliem e  escolham com quais querem trabalhar no   próximo ano letivo. Os livros são sempre atualizados para novas edições e não   podem ser reutilizados, sendo destinados, apenas e eventualmente, para   reciclagem. Sabemos que qualquer mídia em papel tem os dias contados e com os   livros didáticos não será diferente. Mas as editoras ainda não acordaram para   esta nova realidade e, por isso, os tablets ainda não terão grande utilidade   na sala de aula e serão apenas mais um peso na mochila. | Na medida em   que lançarem livros para tablets, as editoras serão forçadas a cobrar apenas   pelas atualizações e não mais pelos relançamentos das edições que trazem   conteúdos muito semelhantes aos das edições anteriores. Os conteúdos baixados   nos tablets serão 100% reaproveitáveis e terão que ser cada vez mais   inovadores, interativos e divertidos para entreter os estudantes. Por mais   este motivo, quanto mais rápido o mercado editorial começar a desenvolver   materiais em formato digital, melhor será. Se as escolas incentivarem o uso   dos tablets, as editoras serão obrigadas a embarcar na digitalização. Isso é   tão certo quando a música digital ter matado o CD. | 
Nesta rápida análise fica claro que, mesmo com estes empecilhos para uma rápida adoção, não há motivos para esperar. As escolas não terão nada a perder em incentivar o uso dos tablets o mais rápido possível. As tarefas escolares, com certeza, se tornarão muito mais divertidas, lúdicas e práticas com o suporte de um tablet. Com poucos cliques, os alunos terão acesso aos conteúdos essenciais e uma infinidade de conteúdos extras, a qualquer momento, não precisando inclusive se deslocar em momentos pontuais para o laboratório de informática. Será o início de uma Nova Era, com mais mobilidade, praticidade, otimização do tempo e dos recursos, tão preciosos quando falamos de Educação.
O tablet chegará para motivar os alunos a explorar mais os conteúdos, criar momentos de reflexão, tirar dúvidas e outras atividades mais produtivas. E irá, claro, tornar o processo de aprendizagem, dentro e fora da sala de aula, mais antenado com os desafios de uma formação cada vez mais exigente. Implementar as novas tecnologias na sala de aula é inevitável e urgente para que estas novas gerações ingressem mais preparadas no mercado de trabalho em que saber usar um microcomputador deixou há muito tempo de ser um diferencial. A Fernanda, que não chegou a conhecer uma máquina de escrever e só ouve músicas no iPod, é prova disso e ela tem pressa! Ou as editoras e escolas entendem a Fernanda ou irão perder definitivamente sua atenção para oráculos como o Google e a Wikipedia. A hora é agora!
Fonte:Diretora do Instituto Crescer Para a Cidadania e doutoranda na Faculdade de Educação da USP, ela é uma estudiosa da tecnologia aplicada à Educação- Luciana Allan